Delação de Fábio
Cleto embasou pedido de prisão de doleiro ligado a Cunha.
Em nota, peemedebista negou ter recebido 'qualquer vantagem indevida'.
Em nota, peemedebista negou ter recebido 'qualquer vantagem indevida'.
Mariana Oliveira e Lucas Salomãoda TV Globo e do G1, em Brasília
Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa e delator
da Lava Jato (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
O ex-dirigente
da Caixa Fábio Cleto, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou em
depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) que o presidente afastado da
Câmara,Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ficava com
80% da propina paga em suposto esquema para a liberação de recursos do Fundo de
Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal.
A informação
foi citada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em documento
enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) no qual pediu a prisão do doleiro
Lúcio Funaro,alvo da Operação Sépsis, uma nova etapa da Operação Lava
Jato. Preso na ação, ele é apontado por delatores da Lava Jato e
pela Procuradoria-Geral da República como operador de propina no esquema ligado
a Cunha.
Por meio de
nota divulgada pela assessoria Cunha negou ter combinado ou recebido qualquer
vantagem indevida. "Desconheço o conteúdo da delação, porém quero
desmentir com veemência os supostos fatos divulgados e desafio a
provarem", afirmou o presidente afastado da Câmara (leia a nota na
íntegra ao final da reportagem).
Na delação,
Cleto afirmou que a propina paga representava 1% do valor dos contratos com
recursos do Fundo de Investimentos do FGTS. A divisão deste valor era a
seguinte, de acordo com o ex-dirigente da Caixa:
- 80% eram
repassados a Cunha;
- 12% ficavam com Lúcio Funaro;
- 4% ficavam com Fábio Cleto;
- 4% eram repassados ao empresário Alexandre Margotto.
- 12% ficavam com Lúcio Funaro;
- 4% ficavam com Fábio Cleto;
- 4% eram repassados ao empresário Alexandre Margotto.
Segundo o
delator, Lúcio Funaro usava as empresas de Margotto para movimentar valores.
"[Cleto
disse] Que era Funaro o responsável por repassar a Margotto os valores que lhe
eram devidos; [...] Que sabe que Funaro se utilizava das contas e empresas de
Margotto para movimentar valores", diz termo da delação.
Por meio de
nota oficial, a Caixa informou que não houve prejuízo ao FI-FGTS e que vai
continuar ajudando nas investigações.
Por telefone, o
advogado Daniel Gerber, que defende Lúcio Funaro, disse que ainda não tem
conhecimento sobre os detalhes da operação pois não teve acesso aos documentos.
“A única coisa que posso afirmar é que meu cliente (Lucio Funaro) é inocente e
vamos provar que o delator Fabio Cleto mentiu em suas acusações”, disse.
Até a última
atualização desta reportagem, o G1 e a TV Globo não tinham
conseguido contato com as defesas de Fábio Cleto e Alexandre Margotto.
Indicação
No mês passado, Cunha afirmou que deu apoio à indicação de Cleto pela bancada doPMDB do Rio de Janeiro. Em dezembro do ano passado, Cleto foi exonerado da Caixa por determinação da atualmente presidente afastada Dilma Rousseff.
No mês passado, Cunha afirmou que deu apoio à indicação de Cleto pela bancada doPMDB do Rio de Janeiro. Em dezembro do ano passado, Cleto foi exonerado da Caixa por determinação da atualmente presidente afastada Dilma Rousseff.
Na delação, o
ex-dirigente afirma que, logo que assumiu o posto de vice da Caixa, foi
convidado a se encontrar com Cunha em um apartamento em Brasília. Nesta
reunião, segundo a delação, o peemedebista disse ter "grande
interesse" no FI-FGTS, e que caberia a Cleto encaminhar demandas de acordo
com os interesses de Cunha.
"Que nesta
primeira reunião, Eduardo Cunha disse que o grande interesse dele era no Fundo
de Investimento FI-FGTS, onde empresas privadas tomam recursos para obras de
infraestrutura; que nesta reunião, Eduardo Cunha disse que apresentaria
demandas para o depoente e cabia ao depoente analisar e encaminhar de acordo
com os interesses de Cunha", diz o termo de delação de Fábio Cleto.
De acordo com
investigadores, Fábio Cleto informava os nomes das empresas que pediam
financiamento com recursos do FGTS a Lúcio Funaro, que procurava as empresas e
pedia propina para agilizar a liberação do dinheiro. Segundo Cleto, Cunha
também negociava propina diretamente com as empresas.
"Que
depois de aprovadas as operações, Eduardo Cunha confirmava ao declarante
[Cleto] se havia sido cobrada propina e qual valor. [...] Que Funaro informou
sobre o pagamento de propina logo após a posse do depoente na CEF, bem no
início; Que Eduardo Cunha também confirmou o pagamento de propina para o
depoente", diz trecho do termo de delação de Fábio Cleto.
"Que as
pessoas responsáveis por negociar a propina com as empresas era Lúcio Bolonha
Funaro e Eduardo Cunha, [...] que variava quem solicitava a propina a depender
da proximidade com a empresa; Que quem tivesse mais proximidade com a empresa ficaria
encarregado de solicitar a propina; Que, de qualquer forma, em todos os casos,
Funaro e Cunha estavam acertados e alinhados em relação à solicitação de
propina; [... ] Que nesta época, portanto, o declarante recebia orientações de
como proceder e agir dentro da CEF tanto de Eduardo Cunha quanto de Lúcio
Bolonha Funaro", relatam os investigadores em outro termo de delação.
O que é o fundo
FI-FGTS
O FI-FGTS é um fundo de investimento bilionário administrado pela Caixa Econômica Federal que aplica recursos do trabalhador em projetos de infraestrutura. No final de 2015, o patrimônio do fundo acumulou patrimônio de R$ 31,9 bilhões.
O FI-FGTS é um fundo de investimento bilionário administrado pela Caixa Econômica Federal que aplica recursos do trabalhador em projetos de infraestrutura. No final de 2015, o patrimônio do fundo acumulou patrimônio de R$ 31,9 bilhões.
Entre os
projetos que receberam investimentos do fundo estão a Sete Brasil, empresa
criada para construir e administrar as sondas do pré-sal e que entrou em
recuperação judicial após a Operação Lava Jato.
No ano passado,
auditores da KPMG informaram que do total de R$ 21,65 bilhões em investimentos
do FI-FGTS, R$ 4,12 bilhões foram para projetos de empresas investigadas na
Lava Jato ou companhias ligadas a elas.
Nota de Eduardo Cunha
"Em
relação aos fatos hj divulgados, tenho a esclarecer o que se segue:
1) Desconheço o
conteúdo da delação, porém quero desmentir com veemência os supostos fatos
divulgados e desafio a provarem.
2) Não recebi e
nem combinei com quem quer que seja qualquer vantagem indevida de nenhuma
natureza.
3) O delator,
ao que parece, é réu confesso de práticas irregulares, as quais cabe a ele
responder por elas.
4) Não tenho
operador, gestor financeiro ou qualquer coisa do gênero e também não autorizei
ninguém a tratar qualquer coisa em meu nome
5) Lamento que
todas as denúncias formuladas são baseadas em palavras de delator, com
histórias fantasiosas, onde não tive nem o direito de ser ouvido em sede de
inquérito para estabelecer o contraditório.
Ass: Eduardo
Cunha"
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